"(...) Um dos principais desafios do antropólogo que estuda a sua sociedade reside justamente em tentar interpretar sua própria cultura e questionar seus pressupostos que são muitas vezes aceitos como inquestionáveis pela maioria da população e inclusive por muitos pesquisadores. Trata-se de compreender nossos rituais, nossos símbolos, nosso sistema de parentesco, nosso sistema de trocas, etc. (...). É através da observação participante (ou da participação observante) que se tem a possibilidade de analisar, por exemplo, a dimensão da dominação no cotidiano e perceber como a cultura reflete e medeia as contradições de uma sociedade complexa, procurando estudar a cultura não como algo externo mas como um fenômeno que é produzido pelos homens nas suas relações sociais." (OLIVEN, 1987)
|
"Da janela de meu apartamento vejo na rua um grupo de nordestinos, trabalhadores de construção civil enquanto a alguns metros adiante conversam alguns surfistas. Na padaria há uma fila de empregadas domésticas, três senhoras de classe média conversam na porta do prédio em frente; dois militares atravessam a rua. Não há dúvida de que todos estes indivíduos e grupos fazem parte da paisagem, do cenário da rua, de modo geral estou habituado com a sua presença, há uma familiaridade. Mas, por outro lado, o meu conhecimento a respeito de suas vidas, hábitos, crenças, valores é altamente diferenciado. Não só o meu grau de familiaridade, nos termos de Da Matta, está longe de ser homogêneo, como o de conhecimento é muito desigual. No entanto, todos não só fazem parte de minha sociedade, mas são meus contemporâneos e vizinhos." (VELHO, 1981)
|
"Num determinado momento subi os degraus da arquibancada que fica diante da quadra onde rolava a festa e, lá de cima, tive acesso a um espetáculo realmente inusitado: uma disparidade entre a multidão e o barulho que deveria estar fazendo, numa festa de ouvintes; e contraste, havia um fervilhar de mãos numa espécie de frenética pantomima, ao menos aos olhos de um leigo. Em termos plásticos e coreográfi cos o espetáculo era realmente impressionante, e me perguntei se o efeito do barulho, da algaravia, da música no último volume sobre um ouvinte seria da mesma ordem, em termos até de uma experiência extática, ao efeito produzido pelo “mar de mãos”, sobre uma pessoa surda." (MAGNANI, 2009)
"A maioria aqui na rodoviária. São vários do interior aqui... Que vieram e ficaram. (...) Eu sei que eu vim pequeninho. Com a roupinha tudo suja de bolo frito (risos). Fazer bolinho frito naquelas rodas de carreta, assim, numa frigideira". (RECHENBERG, 2005)
|
"Era habitual na escola estudada, a diferenciação entre as turmas, principalmente no caso das primeiras séries. Diferenciavam-se entre as turmas de “novatos” e de “repetentes, dentre estas, ainda se distinguiam aquelas de repetentes que, no julgamento da escola, caracterizavam casos de excepcionalidade, originando-se as “classes especiais”. Muitas vezes estas distinções eram marcadas pela diferenciação entre turmas "A", "B", "C" ou "D". As observações realizadas mostravam-nos o quanto esta classificação não se referia à capacidade de aprender." (ANDRADE, 1990)
"A história do filme etnográfico é parte da história do próprio cinema e mais particularmente do documentário, ou filmes não ficcionais. Tanto filme quanto etnografia nasceram no século XIX, alcançando a sua maturidade nos século XIX. (HEIDER, 1995)
|